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Quinta, 29 Janeiro 2015 09:18

(U$$$) Com seleção de policiais e amadores, Neném sonha: "Igual a Zico no Japão"

Fonte/Escrito por  globoesportes.com
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Técnico do Catar há quatro anos, maior artilheiro da seleção brasileira tenta levar país ao cenário internacional do futebol de areia. Filho do "Rei da Praia" pode se naturalizar

Por Thierry Gozzer e Matheus TibúrcioDireto de Doha, Catar

Maior artilheiro da história da seleção brasileira de futebol de areia, com 336 gols, Neném está há quatro anos lutando para desenvolver a modalidade no Catar. Ele comanda a seleção do país desde 2011, mas não tem nas mãos uma equipe tão talentosa como aquela em que atuava junto com Zico, Júnior, Edinho, Júnior Negão, Benjamin, Jorginho, entre outros craques. A mais de 11,5 mil quilômetros de distância da terra natal, o Rio de Janeiro, o "Rei da Praia" tenta levar uma equipe amadora, formada majoritariamente por policiais e funcionários de clubes locais, às principais competições internacionais, como a Copa do Mundo deste ano, que será disputada em julho, em Portugal.

- As coisas estão acontecendo, mas a gente quer que aconteça mais. A batalha é grande. A galera respeita muito, o que é bom. O meu objetivo é que o futebol de areia cresça aqui. E ser igual ao Zico e o que ele é no Japão. Sou como um desbravador no Catar. Amanhã eu posso não estar aqui, mas vou estar ligado a tudo que foi criado e desenvolvido - afirmou Neném, lembrando Zico, que jogou e foi técnico no Japão, ajudando a desenvolver o futebol por lá.

Neném, hoje técnico da seleção do Catar de Beach Soccer (Foto: Thierry Gozze)Neném, hoje técnico da seleção do Catar de futebol de areia (Foto: Thierry Gozzer)

 

POLICIAIS E TRABALHADORES NA SELEÇÃO

 

Uma das maiores dificuldades de Neném para montar a seleção é o baixo surgimento de talentos. A média de idade do elenco atual gira em torno dos 34 anos. No país, não há uma liga de futebol de areia para garimpar atletas, então a maioria do grupo atual é constituída por policiais ou pessoas que trabalham nos clubes de futebol do Catar.

O fato de os jogadores não serem profissionais também traz problemas para Neném. Muitos veem o futebol de areia como um divertimento e não têm tanta assiduidade aos treinos, realizados quatro vezes por semana. Alguns passam meses sem dar as caras no centro de treinamento, que fica ao lado do estádio do Al-Gharafa, clube em que atuava o meia-atacante Nenê, ex-PSG - ele rescindiu o contrato nesta quarta-feira.

Neném, hoje técnico da seleção do Catar de Beach Soccer (Foto: Thierry Gozze)Policiais e funcionários de clubes praticamente formam a seleção doCatar de futebol de areia (Foto: Thierry Gozzer)

- A gente quer expandir, fazer uma liga e trazer os jogos para cá. No começo, eles perdiam de 12, 13, 14 gols; agora perdem de três, 6 a 4... Isso já dá uma animada. A gente sempre busca fazê-los acreditarem. Mas o problema é a mentalidade. O trabalho está sendo bem feito, mas os caras precisam abrir o leque para que o negócio ande, como treinar mais a sério - explicou Neném.

O treinador volta e meia pode contar com os brasileiros naturalizados cataris que vêm do futsal, como Lucas e Flavinho, mas os clubes por vezes dificultam a ida dos atletas para torneios. Outro caso é o de Rodriguinho, que saiu do Catar para jogar no Kuwait.

Neném, hoje técnico da seleção do Catar de Beach Soccer (Foto: Thierry Gozze)Maior artilheiro da seleção, Neném ainda mostra a velha habilidade com a bola (Foto: Thierry Gozzer)

Por conta da pouca habilidade dos seus comandados, todos nascidos no Catar, Neném precisa sempre de uma bela dose de paciência nos treinamentos. Mesmo com o inglês pouco afiado, o ex-jogador tenta passar aos cataris o estilo verde-amarelo de jogar na areia. Para isso, já contou com a ajuda do preparador físico Marcos Tondato e agora com a de Erick Sloboda na mesma função.

Treinados pelo maior artilheiro da seleção brasileira, os atletas mostram quase que uma idolatria ao técnico. Jafal Rashid, ex-jogador do Al Sadd, é um deles. Com 45 anos de idade, é o mais velho do grupo.

- O Neném é uma grande estrela. Eu assisti a muitas partidas quando ele estava na seleção brasileira e era um ótimo jogador. É também um bom treinador  - elogiou Jafal, que se despediu do futebol em 2009, numa partida contra o Milan, que na época tinha Ronaldinho, Kaká, Beckham e Maldini.

 

Neném, hoje técnico da seleção do Catar de Beach Soccer (Foto: Thierry Gozze)Jogadores da seleção do Catar treinam nas quadras de futebol de areia (Foto: Thierry Gozzer)

 

ELIMINATÓRIAS E MUNDIAL

 

O Catar disputa em março as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2015. Neném terá a vantagem de comandar a seleção diante dos torcedores cataris, no evento que será disputado na região de Katara. Em 2013, também em casa, a equipe perdeu os três jogos da primeira fase, para o Afeganistão (7 a 3), Austrália (nos pênaltis após empate por 3 a 3) e Omã (3 a 1). Caso conquiste uma das três vagas, será a primeira vez que o Catar vai disputar o Mundial.

Dessa vez o time está confiante após ter batido o rival Kuwait nos Jogos Asiáticos de Areia, em novembro, na Tailândia. O triunfo por 5 a 3, que veio só na prorrogação, foi o único na primeira fase. Nessa competição, a equipe perdeu para os anfitriões, por 5 a 1, e para o Vietnã, por 3 a 1.

- A gente disputou agora os Jogos Asiáticos de Praia, que acontecem de dois em dois anos e são uma espécie de Olimpíadas. A gente não se classificou, mas ganhou do Kuwait, que é uma rivalidade aqui, e até tirou um peso das costas - relembrou Neném.

Caio, filho do Neném (Foto: Thierry Gozze)Caio, filho do Neném, espera defender a seleção do Catar nos gramados (Foto: Thierry Gozzer)

 

FILHO QUER DEFENDER O CATAR NO CAMPO

 

Pai de três filhos (Kayke, de 21; Caio, de 19; e Kyra Carol, de 13), Neném demonstra também muita felicidade com o futuro dos herdeiros, que estudam em escolas do país, mas também têm tempo para o esporte. Participando dos treinos, Kayke ajuda o pai a desenvolver o futebol dos atletas da seleção de futebol de areia do Catar. Mesmo não entrando em quadra, Kyra Carol sempre arrisca umas embaixadinhas. 

E Caio, que saiu do Brasil depois que Neném foi para o Catar, sonha trilhar o caminho do futebol. Ele defendeu o Fluminense nas categorias de base durante sete anos e agora veste a camisa do time do Exército do Catar. Adaptado à vida no país do Oriente Médio - chegou há três anos e meio -, o garoto de 19 anos não pensa em seleção brasileira. Almeja se naturalizar e jogar pelo Catar, tanto no campo quanto na areia, se possível. Ele aguarda completar cinco anos morando no país para obter a cidadania catari.

 - Eu tentaria a seleção brasileira se eu estivesse no Brasil, para todo mundo ver. Mas estando aqui, eu quero ser catari mesmo. Se tudo der certo, quero estar na seleção do Catar já na Copa de 2018 (na Rússia). E se der, na areia também. As pessoas já sabem que eu estou esperando completar os cinco anos para conseguir a naturalização - revelou Caio.

Neném, hoje técnico da seleção do Catar de Beach Soccer (Foto: Thierry Gozze)Kayke, Caio e Kyra Carol posam para foto junto com o pai. Filhos estão adaptados à vida no Catar (Foto: Thierry Gozzer)

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